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Alguns motivos para os bons administradores ficarem contra lei do “administrador”

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    Admin
  • 9 de mai. de 2018
  • 8 min de leitura

Atualizado: 1 de set. de 2018

Uma análise da mediocridade exposta com a lei 439/2015.


Recentemente, o senado abriu uma consulta de opinião de um projeto que está causando muita discussão entre os administradores. O projeto de lei 439/2015 que foi desenvolvido pelo senador Donizeti Nogueira (PT — TO) visa que empresas privadas, públicas e órgãos não governamentais sejam administrados somente por administradores ou tecnólogos graduados que são obrigados a comprovar anualmente sua situação de registro com o Conselho Federal de Administração.


A maioria dos administradores se posicionaram a favor do projeto, onde muitos deles argumentam que são mais capacitados para administração de uma empresa e que devido a essa capacitação, a mortalidade empresarial diminuiria no país. Eles ainda afirmam que o impedimento da administração a outros profissionais seria um direito, pois os administradores passam muitos anos na faculdade para enfrentar a concorrência de outras áreas.


A principal funcionalidade da lei 439: Reserva de Mercado


A principal função da lei 439/2015 é a criação de uma reserva de mercado, onde a lei irá delimitar a administração de vários tipos de organizações somente para administradores e tecnólogos formados e com registros regularizados no Conselho Federal de Administração. Ou seja, essa reserva tem a função visível de “proteger” os administradores da concorrência de profissionais de outras áreas ou de pessoas simples sem uma graduação superior ou técnica que queiram empreender em um ramo específico, mas que poderão ficar impedidas de administrar suas futuras empresas devido a vigência dessa lei.


Muitos administradores defendem essa lei utilizando argumentos como o já citado “direito” de somente administradores gerenciarem uma organização ou uma maior competência na administração de organizações e que essa maior competência diminuiria a mortalidade empresarial no país, porém os motivos que explicam a mortalidade empresarial no Brasil são muitos maiores (altíssima carga de impostos e enormes burocracias) do que uma mera questão de competência.


É claro que erros cometidos em uma gestão também podem levar uma empresa a falência. Porém, como todo ser humano, os administradores não são isentos de erros. Um exemplo claro disso é o caso da professora do curso de Administração da USP que levou cinco meses pra abrir um negócio de frozen iogurte e o fechou em nove devido a uma série de más escolhas, incluindo a venda deste mesmo produto em pleno inverno. Um detalhe importante pode ser citado neste exemplo, a professora em questão possui graduações de mestrado e doutorado em Administração.


Um forte golpe no empreendedorismo


Um dos principais efeitos que a lei 439 pode causar na economia é um forte desincentivo ao empreendedorismo, onde muitos pequenos empreendedores desistirão de começar seu pequeno empreendimento ao ver que outra pessoa, sem conexão da cultura que o empreendedor quer implementar na empresa e sem conhecimento das dificuldades que o empreendedor teve pra obter seus únicos recursos irá administrar sua empresa.


Além deste fator, as despesas para cumprir com as obrigações dos honorários dos administradores seriam muito grandes para muitas pequenas e médias empresas arcarem, onde muitas dessas empresas ainda dispõem de poucos recursos. E indo mais além, o dinheiro gasto com as despesas da contratação obrigatória de administradores poderiam ser destinados para obter um maior investimento em eficiência e competitividade nas organizações. Eficiência e competitividade que podem proporcionar produtos melhores aos clientes e oferecer melhores condições e remunerações aos colaboradores, porém estes exemplos podem ter uma maior dificuldade de realização com a aprovação dessa lei.


Juntamente a fatores como aumento de despesas, a burocracia para constituição de uma empresa poderá ser mais acentuada com a vigência da lei 439. Em um país como o Brasil, onde se leva mais de 107 dias para abrir uma empresa, conforme dados do Banco Mundial, uma lei que pode obrigar de antemão a contratação de um profissional pode dificultar ainda mais a construção de novas empresas em um país que a dificuldade de abrir em novos negócios já é muito grande.


Para ilustrar melhor toda a situação, coloque-se no lugar de um pequeno empreendedor que está prestes a realizar seu antigo sonho de abrir uma empresa, mas ele descobre que em meio as diversas regulações governamentais a cumprir e as diversas guias e taxas a pagar, ele terá ainda que separar obrigatoriamente algumas horas para selecionar um estranho para administrar a empresa no lugar dele devido a uma regulação estatal. Sim, você entendeu bem. Um estranho. Um estranho e indiferente as dificuldades que o empreendedor passou para colocar seu empreendimento em prática. Um estranho e indiferente a cultura empresarial que o empreendedor pretendia implantar na organização. Um estranho arrogante que junto de um papel timbrado e carimbado pelo mec que pensa ter mais direito do que você para gerir sua organização. Agora, faça uma pergunta a si mesmo. Com essas “condições”, você ainda pensaria em abrir uma empresa?


Uma bela contribuição para desigualdade social


Um dos assuntos mais em voga atualmente é a desigualdade social. Ela é falada em telejornais, debates, artigos e entre outros meios existentes de comunicação. Muitos culpam a falta de oportunidades, o capitalismo, a desigualdade de renda e entre outros motivos. Porém, o que vemos na realidade é que o maior causador de desigualdades é o estado, quando este impede que pessoas inexperientes ou com poucas capacidades possam ter um emprego a salários mais baixos do que estabelecidos no mercado ou quando este não deixa que simples ambulantes possam trabalhar honestamente vendendo simples mercadorias como alguns doces ou picolés.


Essas são simples situações em que o estado joga pobres homens e mulheres na miséria, porém algumas situações não são tão visíveis com as anteriormente citadas. Como a situação de entidades que se juntam ao estado no intuito de criar uma reserva de mercado para profissionais ineficientes e para obter mais ganhos impedindo que pessoas sem maiores conhecimentos possam a ter a oportunidade de sair de difíceis condições criando uma microempresa.


Uma situação como essa e que pode ser gerada a partir de uma lei extremamente elitista como a 439 não permitiria que pessoas como Geraldo Rufino (que na sua infância chegou a catar latinha para complementar renda) ou David Portes (um ex-camelô que chegou a dormir na rua e transformou apenas R$12 em mais de 100 mil reais com uma série de inovações em técnicas de venda que foram elogiadas até mesmo pelo papa do marketing, Philip Kotler) administrassem suas organizações devido aos dois empreendedores não possuírem um diploma acadêmico em administração e todos nós sabemos que uma boa parte dos empreendedores de pequeno e médio porte não possuem diplomas acadêmicos. Também sabemos que o grosso da economia brasileira é formada por empresas de pequeno e médio porte que geram a maior parte dos empregos, ou seja, grande parte da economia do país seria afetada por uma regulação que busca proteção e ganho de um grupo específico.


A hipocrisia em forma de regulação


Muitos administradores defendem que a obrigação da contratação de profissionais de administração por empresas privadas e públicas é necessária devido aos profissionais de outras áreas não terem conhecimentos básicos para gestão de uma empresa. Assim, estes outros profissionais poderiam levar empresas a falência enquanto que os administradores poderiam evitá-la e assim diminuir a alta mortalidade empresarial no país.


Já citei anteriormente que a falacia de menor mortalidade vai muito além do que um simples diploma em administração e que os administradores não isentos de falhas. Porém, este argumento chama atenção por outro motivo.

Ao citar este argumento, os administradores arrogam que somente eles são os “eleitos” de possuir todos os conhecimentos de gestão passados nas universidades através de diversos teóricos como Kotler, Drucker, Falconi e entre outros. Porém, o que eles não sabem é que grande maioria desses teóricos são formados em outras áreas.


Podemos começar citando o mais conhecido e mais adorado por todos administradores, Peter Drucker. Considerado como o pai da administração moderna, Peter Drucker contribuiu enormemente com diversas teorias e prestou consultorias a grandes empresas do mundo. Porém, mesmo com tantas teorias desenvolvidas para o estudo da administração de empresas, sua formação não tinha muito em comum com administração. Peter era formado em Direito pela Universidade de Hamburgo, Alemanha.


Outro grande nome da administração, Philip Kotler, um homem que é a principal referência em Marketing, é doutor em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Outros nomes históricos da administração como Henri Fayol, Frederick Taylor, Max Weber, Jack Welch e entre muitos outros que são formados fora da área de administração ou até mesmo os que não possuem graduação de nível superior como o empreendedor Henry Ford.


Todos estes grandes nomes colocam em dúvida a ideia de “eleitos”, pois como os administradores podem ser os “eleitos” ou “escolhidos” dos conhecimentos de administração, se estes mesmos conhecimentos foram desenvolvidos por empreendedores sem graduação ou profissionais de outras áreas? Meio contraditório não? Além de colocar em dúvida, este fator mostra a hipocrisia dos “eleitos” que utilizam as teorias desenvolvidas por advogados, economistas, engenheiros e empreendedores, mas ao mesmo tempo querem impedir que estes mesmos profissionais possam administrar suas organizações. E essa hipocrisia fica mais vergonhosa quando vemos estes mesmos “eleitos” exaltando a figura de Peter Drucker. Porém, se Drucker estivesse no Brasil para administrar uma organização e se essa imbecilidade em forma de lei estivesse em vigência, simplesmente Drucker, o pai da administração moderna estaria impedido de administrar uma empresa no país.


Conclusão


Toda discussão sobre a lei 439 revelou duas coisas: a arrogância e prepotência dos administradores brasileiros. Eles simplesmente pensam que por causa de um papel timbrado e carimbado com o selo do mec possuem mais direitos para administrar uma organização do que o próprio dono que investiu e enfrentou dificuldades para constituir sua empresa. Eles simplesmente pensam que pela razão de possuir um diplominha de administração são donos de todos os conhecimentos inerentes a gestão e que profissionais de outras áreas são menos capazes de aplicar tais conhecimentos. Porém, a arrogância e prepotência cega e faz com que muitos “administradores” não enxerguem que administração sempre teve e ainda terá influências de diversos conhecimentos. Ela não é um conhecimento específico e querer especificar a gestão para administradores irá somente acarretar prejuízos para própria área.


Essa mesma arrogância e prepotência que cega sobre estes fatores, também cega ao não ver que a lei 439 beneficiará mais o CFA/CRA do que os próprios administradores. Um conselho que cobra cada vez mais e que proporciona cada vez menos benefícios. Um conselho que se movimenta rapidamente para apoiar uma lei em próprio benefício, mas que se esconde quando o assunto é para proporcionar um ambiente com livros mais baratos para os estudantes de administração ou para proporcionar bolsas de pós graduações ou cursos de idiomas para aqueles que já formados.


Ao invés de espalhar banners no facebook com apoio a uma regulação idiota ou pedir união para votar a favor a lei no site do senado nos grupos de whatsapp, os administradores deveriam se unir para requisitar maiores benefícios do CFA/CRA ou até mesmo boicotar uma entidade que obriga o pagamento de anuidades caríssimas para proporcionar no máximo o envio de uma revista. Essas são atitudes que os administradores precisam tomar para obter maiores benefícios do CFA, mas entrar no jogo dessa mesma entidade com o objetivo de conseguir emprego na marra e prejudicando pessoas que ainda estão batalhando em busca de seus sonhos e justificando tal fato como direito, isso é algo que só denigre a classe de administradores.


Não se engane, eu também irei receber um diplominha de bacharel de administração. Porém, nada me dá direito de interferir nos anseios ou na administração de propriedades privadas de outras pessoas, pois nada é melhor como o próprio dono gerenciar a empresa que ele tanto lutou para erguer. E como um administrador sério, tenho a obrigação de mostrar meu valor sendo o melhor profissional possível e ajudando as organizações oferecendo VOLUNTARIAMENTE meus serviços.


Caro administrador, estudante ou formando, o único caminho para sermos profissionais mais reconhecidos no mercado é o esforço. Não tem caminho mais fácil. Se você não quiser fazer aquele curso de idiomas ou aquela pós, você fatalmente ficará para trás. Se não tem dinheiro pra fazer um curso de idiomas ou uma pós, existe de forma gratuita na internet ou nas plataformas de smartphones diversos app’s de idiomas e cursos direcionados a gestão como os vários cursos oferecidos pela Endeavor. E se ainda não tem emprego, você tem a opção de empreender em um negócio próprio. Sim, é difícil empreender. Não é um mar de maravilhas que empreendedores de palco pregam, mas é melhor do que se rastejar aos pés de um burocrata por causa de um simples emprego.


Portanto, a posição de querer obrigar que as organizações sejam obrigadas a contratá-los é indefensável para aqueles que querem ser bons administradores, pois existem amplas opções para que você possa se sobressair no mercado. Mas se você é daqueles que não querem fazer nada e acha mais fácil chorar para algum burocrata do governo obrigar as empresas a te contratarem… Aí o seu caso de mediocridade é perfeitamente compreensível.


FONTES:

  • Drucker’s Career Timeline And Bibliography — Drucker Institute

  • A Bíblia da Inovação — Fernando Trías de Bes e Philip Kotler (Biografia de Philip Kotler)

  • David Portes — Site Oficial

  • Ex-catador de latas fatura R$ 50 mi por ano com desmanche legal — UOL Economia

  • Quanto tempo demora para abrir uma empresa no Brasil — Exame.com

  • Professora da USP levou oito meses para abrir negócio que fechou em nove — Folha de São Paulo


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